Sim, o sentimento de plot - algo aconteceu depois por causa de algo que se deu antes, e algo que se deu antes explica o que se deu depois, ainda que Édipo não soubesse o que estava, de fato, acontecendo.
Achas que é um sentimento universal? Às vezes, suspeito que não. Há quem busque, com esforço, se manter no agora. Pode ser com meditação zen, olhando para a parede, pode ser com best-seller sobre o poder do agora. Mas há, acho eu, aqueles que facilmente vivem num fluído presente quase pontual. Seriam presentistas (no teu sentido de "presentismo")?
O "presentismo" de que costumo falar não é bem o da metafísica do tempo. É uma noção apresentada por François Hartog em um livro chamado "Regimes de historicidade". Designaria o climão de ausência de futuro histórico que, há quase 40 anos, paira sobre nós como atmosfera. De modo bem grosso, entre 1789 e 1989 a consciência histórica era "futurista" e, antes, "passadista", no sentido do "para onde" se volta a imaginação dos indivíduos e grupos. No prefácio que faz para a 2ª edição do livro, Hartog chega a reconhecer, de longe, que o presentismo, a despeito de sua gênese histórica enquanto "climão" no final do século XX, pode ser a posição "default setup" da consciência histórica. Mas ele não desenvolve isso.
Agora... Se é um sentimento "universal"... Acho difícil sustentar. Acho que, como sugere o prof. Ronai, ele pode ir crescendo. Mas para crescer, tem de ser regado. Mas se ficar muito grande, sobe pelas paredes, toma conta da casa e passa a demandar poda. É uma plantinha delicada, eu imagino.
No mais, eu tentei fazer uma casinha para os presentistas metafísicos na minha tese. Gente como Galen Strawson, William Blattner, Derek Parfit, enfim, para todo mundo que não quer, não consegue ou simplesmente não tem a mania de ficar regando uma porção de vasinhos com historinhas sobre si próprio.
Bem interessante isto de usar "passadismo", "presentismo", e "futurismo" para descrever orientações da imaginação.
Com respeito ao indivíduo, em vez da coletividade, há uma filósofa que usa estas categorias para prescrever, em vez de descrever, como devemos pensar ou imaginar o tempo. A proposta dela é que algumas éticas do tempo dizem para focarmos no passado, outras para focarmos no presente, outras ainda para focarmos no futuro. É algo que ela sugere, no final do artigo, dado que a tal metafísica do tempo chega a impasses.
Boa reflexão.
Sim, o sentimento de plot - algo aconteceu depois por causa de algo que se deu antes, e algo que se deu antes explica o que se deu depois, ainda que Édipo não soubesse o que estava, de fato, acontecendo.
Achas que é um sentimento universal? Às vezes, suspeito que não. Há quem busque, com esforço, se manter no agora. Pode ser com meditação zen, olhando para a parede, pode ser com best-seller sobre o poder do agora. Mas há, acho eu, aqueles que facilmente vivem num fluído presente quase pontual. Seriam presentistas (no teu sentido de "presentismo")?
Valeu! :)
O "presentismo" de que costumo falar não é bem o da metafísica do tempo. É uma noção apresentada por François Hartog em um livro chamado "Regimes de historicidade". Designaria o climão de ausência de futuro histórico que, há quase 40 anos, paira sobre nós como atmosfera. De modo bem grosso, entre 1789 e 1989 a consciência histórica era "futurista" e, antes, "passadista", no sentido do "para onde" se volta a imaginação dos indivíduos e grupos. No prefácio que faz para a 2ª edição do livro, Hartog chega a reconhecer, de longe, que o presentismo, a despeito de sua gênese histórica enquanto "climão" no final do século XX, pode ser a posição "default setup" da consciência histórica. Mas ele não desenvolve isso.
Agora... Se é um sentimento "universal"... Acho difícil sustentar. Acho que, como sugere o prof. Ronai, ele pode ir crescendo. Mas para crescer, tem de ser regado. Mas se ficar muito grande, sobe pelas paredes, toma conta da casa e passa a demandar poda. É uma plantinha delicada, eu imagino.
No mais, eu tentei fazer uma casinha para os presentistas metafísicos na minha tese. Gente como Galen Strawson, William Blattner, Derek Parfit, enfim, para todo mundo que não quer, não consegue ou simplesmente não tem a mania de ficar regando uma porção de vasinhos com historinhas sobre si próprio.
Bem interessante isto de usar "passadismo", "presentismo", e "futurismo" para descrever orientações da imaginação.
Com respeito ao indivíduo, em vez da coletividade, há uma filósofa que usa estas categorias para prescrever, em vez de descrever, como devemos pensar ou imaginar o tempo. A proposta dela é que algumas éticas do tempo dizem para focarmos no passado, outras para focarmos no presente, outras ainda para focarmos no futuro. É algo que ela sugere, no final do artigo, dado que a tal metafísica do tempo chega a impasses.
O artigo é:
Deng, Natalja. 2018. “What Is Temporal Ontology?” Philosophical Studies 175 (3): 793–807. https://doi.org/10.1007/s11098-017-0893-6.