Olá, Vitor! Fui atrás do texto do Marcelo e me deparei com o teu. Sou incompetente para avaliar se há ou não motivos nostálgicos nas obras de Heidegger e Sartre, mas você me convenceu que sim :) De todo modo, passo aqui é para dizer que o texto é repleto de detalhes inspiradores, como as traduções e etimologias, e tantas outras imagens e temas cativantes. É um daqueles textos que a gente "se lavanta" várias vezes, inquieto e desejoso (sehnsucht, agora eu sei). Se eu tivesse que contrapor a sentença do Camus sobre o verdadeiro problema filosófico, certamente me apoiaria em teu texto para defender que é a nostalgia. Se falamos de motivo, teu texto foi de alegria!
Recentemente li um livro do Löwith, aquele De Hegel a Nietzsche. Ali Hegel e Goethe aparecem como uma última tentativa de "estar novamente em casa"; dali pra frente, como se diz, foi só pra trás. Mas lembrei disso porque o niilismo é um dos grandes sintomas em Nietzsche. E Löwith já pelo início afirma que ele buscou o "novo começo" na antiguidade e "nesse experimento desapareceu na escuridão de sua loucura", diz ele. O que mostra, num dos limites, o perigo nostálgico. Enfim, são outros desdobramentos...
Outra lembrança que teu texto evocou foi a de uma passagem de Lacan em Televisão, e que só agora pude entender, onde ele diz que o sujeito não precisa buscar a felicidade porque ele já é feliz. Algo assim. Pois bem, me pareceu muito próximo dos momentos em que tu aponta para a angústia como esse índice de terror e maravilhamento com a própria condição, esse contentamento descontente em já ser-sido (para Lacan, seria algo de descobrir que se é feliz porque se Repete). É o bastante! Aquela citação de Fell sobre ir buscar longe o que está tão perto... sinceramente é de arrepiar. Pra mim, aí estaria a grande solução, se solução houvesse.
Parabéns pelo trabalho! Desejo que logo tu chegue à estabilidade e se preocupe menos com a CAPES e suas métricas. Boa sorte e já deixo um "feliz 2025" por aqui também! Abraço
Poxa Daniel, muito obrigado pela mensagem. Em tempos tão instáveis e tão cheios de métricas, é uma alegria descobrir que um texto não vai morrer como documento comprobatório de currículo, pois já foi lido.
Não sabia desse lance do Lacan em Televisão. Do que conheço dele, dá quase que, usando aquele efeito Harris Shutter, sobrepor com o Sartre de "O ser e o nada": tanto o sujeito cindido quando o Para-si vivem aflitos querendo um "não sei o quê", um desejo que, forçando a mão, associei à Sehnsucht romântica. Se em Televisão ele associa essa felicidade com a repetição, quem sabe dá pra pensar o poético habitar heideggeriano - único expediente de pensamento no qual encontrei, entre os fenomenólogos, esse outro modo de ser, estar e habitar - desde a Wiederholung de "Ser e tempo", essa repetição ou retomada do passado até então esquecido. O próprio Sartre nunca foi à televisão dizer que já somos felizes ahaha. Enfim, são só livres associações matinais. Ainda não tomei café suficiente e o sol ainda não nasceu, posso estar falando bobagem.
Quanto ao Löwith, acho que - quero crer que - teu comentário é um sinal para que eu o leia direito. Tenho esse livro desde 2012, quando ganhei uma edição dele em espanhol por ter concluído o mestrado. Comecei mas não continuei. Lembro que ele me reforçava uma impressão que só vai ficando mais forte com o tempo, a saber, a de que a gente está, "espiritualmente", em uma partida de xadrez meio perdida, cujos primeiros lances foram dados por essa gente da virada do XVIII pro XIX, primeiros lances que alguns deles já teriam percebido, ao fazer, que não poderiam dar em partida vencedora.
Feliz 2025 e, de novo, obrigado por essa leitura. São essas leituras que dão o acabamento de sentido sem os quais os textos são só mensagens boiando dentro de garrafas. Um abraço!
Que maravilha ler você. Voltei muitas vezes aqui nesse trecho "a expectativa que não tem horizonte no qual se lançar sangra para dentro. Essa hemorragia interna da expectativa é a nostalgia. Mesmo assim, gosto de pensar que a nostalgia, do seu modo, é uma figura da esperança: a lembrança é frequentemente um desejo de repetição e, portanto, ainda é um desejo."
Noemi! Tu estava sempre por aqui? Ou chegou agora?
Obrigado pela leitura atenciosa. Penso, com meus livrinhos preferidos, sobre muitas coisas que ficariam muito caras de cuidar em terapia. Mas não recomendo.
eu estava! e até escrevinhei algumas coisas que não passaram pelo crivo da combinação ácida de tempo+ auto-crítica rsrs mas continuo sendo fã dos amigos. Sobre terapia e terapeutas: às vezes olho pro meu e sinto uma pena tão grande… o que me consola e redime é saber que ele está sendo pago! Abraço!
Tive a paciência de ler o texto todo. Acredito que a paciência que tu conclamas em mim é interesse por tudo o que perpassa a Filosofia em um texto inteligente e bem-articulado. Tudo, então, nasceu do Koselleck? O cara tá rendendo... Muito bom! Parabéns! Rô
Muito obrigado, mais uma vez, pela leitura tão atenciosa!
A reflexão sobre nostalgia - enquanto uma forma de expectativa que, tendo perdido seus horizontes, "sangra pra dentro" - certamente foi influenciada por ele. Mas ele se instalou na minha cabeceira bem depois de Kundera, Sartre, Heidegger e Ricoeur. O textinho que saiu na Ekstasis é sobre Heidegger e Sartre, mais especificamente. Acho que Koselleck apenas parte do fato de que as coisas nunca se passam como imaginamos ou queremos. Heidegger e Sartre, por sua vez, poderiam nos ajudar a compreender as razões ontológicas para que as coisas sejam assim, digamos.
Olá, Vitor! Fui atrás do texto do Marcelo e me deparei com o teu. Sou incompetente para avaliar se há ou não motivos nostálgicos nas obras de Heidegger e Sartre, mas você me convenceu que sim :) De todo modo, passo aqui é para dizer que o texto é repleto de detalhes inspiradores, como as traduções e etimologias, e tantas outras imagens e temas cativantes. É um daqueles textos que a gente "se lavanta" várias vezes, inquieto e desejoso (sehnsucht, agora eu sei). Se eu tivesse que contrapor a sentença do Camus sobre o verdadeiro problema filosófico, certamente me apoiaria em teu texto para defender que é a nostalgia. Se falamos de motivo, teu texto foi de alegria!
Recentemente li um livro do Löwith, aquele De Hegel a Nietzsche. Ali Hegel e Goethe aparecem como uma última tentativa de "estar novamente em casa"; dali pra frente, como se diz, foi só pra trás. Mas lembrei disso porque o niilismo é um dos grandes sintomas em Nietzsche. E Löwith já pelo início afirma que ele buscou o "novo começo" na antiguidade e "nesse experimento desapareceu na escuridão de sua loucura", diz ele. O que mostra, num dos limites, o perigo nostálgico. Enfim, são outros desdobramentos...
Outra lembrança que teu texto evocou foi a de uma passagem de Lacan em Televisão, e que só agora pude entender, onde ele diz que o sujeito não precisa buscar a felicidade porque ele já é feliz. Algo assim. Pois bem, me pareceu muito próximo dos momentos em que tu aponta para a angústia como esse índice de terror e maravilhamento com a própria condição, esse contentamento descontente em já ser-sido (para Lacan, seria algo de descobrir que se é feliz porque se Repete). É o bastante! Aquela citação de Fell sobre ir buscar longe o que está tão perto... sinceramente é de arrepiar. Pra mim, aí estaria a grande solução, se solução houvesse.
Parabéns pelo trabalho! Desejo que logo tu chegue à estabilidade e se preocupe menos com a CAPES e suas métricas. Boa sorte e já deixo um "feliz 2025" por aqui também! Abraço
Poxa Daniel, muito obrigado pela mensagem. Em tempos tão instáveis e tão cheios de métricas, é uma alegria descobrir que um texto não vai morrer como documento comprobatório de currículo, pois já foi lido.
Não sabia desse lance do Lacan em Televisão. Do que conheço dele, dá quase que, usando aquele efeito Harris Shutter, sobrepor com o Sartre de "O ser e o nada": tanto o sujeito cindido quando o Para-si vivem aflitos querendo um "não sei o quê", um desejo que, forçando a mão, associei à Sehnsucht romântica. Se em Televisão ele associa essa felicidade com a repetição, quem sabe dá pra pensar o poético habitar heideggeriano - único expediente de pensamento no qual encontrei, entre os fenomenólogos, esse outro modo de ser, estar e habitar - desde a Wiederholung de "Ser e tempo", essa repetição ou retomada do passado até então esquecido. O próprio Sartre nunca foi à televisão dizer que já somos felizes ahaha. Enfim, são só livres associações matinais. Ainda não tomei café suficiente e o sol ainda não nasceu, posso estar falando bobagem.
Quanto ao Löwith, acho que - quero crer que - teu comentário é um sinal para que eu o leia direito. Tenho esse livro desde 2012, quando ganhei uma edição dele em espanhol por ter concluído o mestrado. Comecei mas não continuei. Lembro que ele me reforçava uma impressão que só vai ficando mais forte com o tempo, a saber, a de que a gente está, "espiritualmente", em uma partida de xadrez meio perdida, cujos primeiros lances foram dados por essa gente da virada do XVIII pro XIX, primeiros lances que alguns deles já teriam percebido, ao fazer, que não poderiam dar em partida vencedora.
Feliz 2025 e, de novo, obrigado por essa leitura. São essas leituras que dão o acabamento de sentido sem os quais os textos são só mensagens boiando dentro de garrafas. Um abraço!
https://youtu.be/LDSxN68OLx4?si=KylPsIzXri4Q-BrP
Que bonito isso. Não conhecia. Obrigado.
Que maravilha ler você. Voltei muitas vezes aqui nesse trecho "a expectativa que não tem horizonte no qual se lançar sangra para dentro. Essa hemorragia interna da expectativa é a nostalgia. Mesmo assim, gosto de pensar que a nostalgia, do seu modo, é uma figura da esperança: a lembrança é frequentemente um desejo de repetição e, portanto, ainda é um desejo."
Noemi! Tu estava sempre por aqui? Ou chegou agora?
Obrigado pela leitura atenciosa. Penso, com meus livrinhos preferidos, sobre muitas coisas que ficariam muito caras de cuidar em terapia. Mas não recomendo.
Abraço!
eu estava! e até escrevinhei algumas coisas que não passaram pelo crivo da combinação ácida de tempo+ auto-crítica rsrs mas continuo sendo fã dos amigos. Sobre terapia e terapeutas: às vezes olho pro meu e sinto uma pena tão grande… o que me consola e redime é saber que ele está sendo pago! Abraço!
Vou ler o teu artigo! Bom domingão!
Tive a paciência de ler o texto todo. Acredito que a paciência que tu conclamas em mim é interesse por tudo o que perpassa a Filosofia em um texto inteligente e bem-articulado. Tudo, então, nasceu do Koselleck? O cara tá rendendo... Muito bom! Parabéns! Rô
Muito obrigado, mais uma vez, pela leitura tão atenciosa!
A reflexão sobre nostalgia - enquanto uma forma de expectativa que, tendo perdido seus horizontes, "sangra pra dentro" - certamente foi influenciada por ele. Mas ele se instalou na minha cabeceira bem depois de Kundera, Sartre, Heidegger e Ricoeur. O textinho que saiu na Ekstasis é sobre Heidegger e Sartre, mais especificamente. Acho que Koselleck apenas parte do fato de que as coisas nunca se passam como imaginamos ou queremos. Heidegger e Sartre, por sua vez, poderiam nos ajudar a compreender as razões ontológicas para que as coisas sejam assim, digamos.
Bom domingo!