Talvez o tema merecesse bem menos do que uma postagem, talvez merecesse bem mais. “Neste dia, há sete anos”, diz uma rede social, eu “deixava o meu emprego (professor substituto)”. Pego essa memória, como se a pegasse com a mão, e não sei bem o que fazer com ela. Fui procurar registros da época e encontrei esse daí, no qual meu nome aparece junto ao do professor
, em uma tabela dos horários em que os professores do departamento dariam aulas em outros cursos. Foi nessas aulas em outros cursos que passei a maior parte dos quase exatos e já distantes 2 anos em que atuei no departamento em que me formei — na companhia do professor Ronai que, dois anos depois, encerraria um ciclo bem maior, de 46. Salvo melhor engano, dos 18 professores desse departamento, apenas 4 são da também já distante época da minha graduação.Falo disso por que às vezes é difícil encarar as coisas, o futuro e o passado, sob o prisma de um conceito, digamos, mais fenomenológico de tempo. Esse tipo de conceito de tempo, vale dizer, faz o contrário do que outros conceitos de tempo costumam fazer. O tempo fenomenológico integra o que, no tempo ordinário, tende a parecer disperso, separado. Na prática miúda da vida, tudo se passa como se um olhar integrador dependesse, no fundo, de uma espécie de mistura entre técnica e cuidado. Há que se exercitar a memória em uma certa direção, cuidar das lembranças, etc. Acho que isso tem lá suas semelhanças com a jardinagem. As lembranças são coisas muito frágeis, exigindo delicadeza e atenção para com elas, como se fossem flores. Às vezes, se é que não frequentemente, exigem uma poda. Precisam de água e, desconfio, algumas preferem água salgada. Nem todas são bonitas e muitas são daninhas, devendo ser removidas para que não matem as outras. Acho que pode até acontecer que em alguns canteiros inteiros — pensando aqui no canteiro enquanto metáfora para um segmento de tempo —, por descuido ou depois de uma poda, sobre apenas alguma pequenina flor de miosótis, e nos reste apenas colhê-lo e carregá-lo conosco, mais ou menos como a doida do miosótis do romance de Milan Kundera.
Depois, de um tempo, quem sabe, cabe deixá-lo, como se faz muito comumente, marcando a página de algum livro.